Um manifesto, uma apresentação, uma historia
Um manifesto
Aproveitar brechas de vulnerabilidade no sistema. Construir um espaço seguro, mesmo que, para isso, tenhamos que quebrar coisas no caminho. Conhecer o sistema profundamente e entender quais são os pontos fracos sobre os quais podemos agir. Construir uma comunidade fortalecendo todos os membros, adotando premissas colaborativas, de trocas de conhecimento e ideias, para que todos possam crescer juntos no processo.
Poderia ser sobre hacking, mas é sobre sexualidade.
Podemos entender como a vivência de nossa (a)sexualidade está no automático. E é permeada de questões estruturais que, nem sempre, estão nítidas para nós. Observar e atuar sobre isso e termos uma relação mais saudável com nossos desejos.
Você pode isso. Eu posso isso. Nós podemos isso. Entender o que permeia nossas sexualidades — e assexualidades — sem melindres, sem culpas, sem visões enviesadas.
Entender sobre os desejos, sobre nossos corpos, sobre nossas subjetividades. E tudo que atua sobre isso.
Esse é um manifesto em prol de hackearmos nossa sexualidade. Uma jornada em busca do nosso próprio prazer. Em busca de nós mesmos. E convido você para participar disso.
Uma apresentação — e um pouco de história
Bom, se você chegou até aqui, imagino que esteja curioso para saber, afinal, do que se trata o Hacking Sex. Em primeiro lugar, eu sou a Luciana, mestre em Comunicação e Sociedade pela UFJF, pesquisadora, produtora de conteúdo e a louca idealizadora deste projeto que me é tão caro.
A sua concepção nasceu no ano de 2016, quando eu planejava um outro formato para apresentar o mesmo conceito: vivenciar a sexualidade de uma forma saudável (para você e para outros), sem melindres, sem culpas, quebrando tabus.
A “fagulha geradora” aconteceu uns meses antes, ainda em 2015, em um evento de mulheres empreendedoras. Estava presente no meio de diversas manas empoderadas e empoderadoras, com pensamentos abertos e incríveis, mas que tinham a vergonha de comprar um vibrador. Entenda: não era não ter vontade. Era ter a vontade e sentir-se inibida para isso. Aquilo permaneceu na cabeça por meses, pensando: “como empoderar pessoas sobre seus desejos e sexualidade?”.
Unindo o útil ao agradável, já que naquele período eu estudava sobre cultura hacker, muitos dos termos e princípios moravam na minha cabeça. E um dia veio na mente, naturalmente: “hey, Hacking Sex”.
Quatro anos se passaram, entre planejamentos diversos, pesquisas, cadernos com sugestões de temas, mas sempre algo (interno) impedindo ele de nascer. Veio 2020, pandemia, necessidade de novos projetos. Não dava mais para esperar.
Nascido primeiramente no Instagram, hoje ele cresce mais um pouquinho, aqui no Medium. Um espaço no qual há a oportunidade de aprofundarmos mais em algumas questões sem as limitações de caracteres (2200 pode ser muito pouco para alguns temas). Então, espero que possamos ter bons debates por aqui também. :)
Como o Hacking tem a ver com sexualidade?
“Mas como é possível unir sexualidade, algo tão ‘humano’ com ‘hacking’, algo tão tecnológico?”. Senta, puxa a cadeira, pega uma cerveja e vem!
No mundo da informática, o hacker é aquele indivíduo que se dedica exaustivamente ao conhecimento de um determinado aspecto técnico, a fim de modificar (com intuito de melhorar, principalmente, brechas de vulnerabilidade) dispositivos, sistemas e redes.
— Ah, mas como assim? Hacker não é aquele que rouba meus dados do cartão de crédito ou minha conta para uso próprio?
Confusão comum: esse é um cracker e a diferença fundamental entre eles está baseado em um ponto simples: ética.
“Os hackers não são aquilo que os meios de comunicação dizem que são: não são um bando de informáticos loucos sem escrúpulos que se dedicam a vulnerabilizar (crack) os códigos, a penetrar ilegalmente nos sistemas ou a criar desordem no tráfego informático. Os que atuam desse modo recebem o nome de crackers, e a cultura hacker rejeita-os, embora eu considere pessoalmente, em termos analíticos, que os crackers e os outros tipos cibernéticos pertencem a uma subcultura de um universo hacker muito mais amplo e geralmente inócuo”. (CASTELLS, 2003, p. 60)
Sendo assim, hackers atuam dentro de condutas éticas (estabelecidas desde os anos 1960), enquanto crackers visam o autobenefício, causando prejuízos a terceiros por motivações egoístas.
Esse é um ponto, inclusive, norteador deste projeto: a possibilidade sim, de quebrar tabus, viver uma sexualidade mais saudável, mas sempre baseada em condutas éticas — por exemplo, a consensualidade é primordial e indispensável.
Dentro da ética hacker, cito ainda alguns pontos importantes que dialogam com esse projeto:
- informação livre;
- descentralização;
- adoção de condutas colaborativas — uma pessoa sozinha tem muito menos potencial transformador do que quando o coletivo se une em prol daquilo.
Esse último ponto é vital para este projeto que apresento aqui. Sem a participação de vocês, leitores, não será possível isso. Eu não sou detentora de toda a desconstrução de sexualidade (e nem viso ser, quero crescer junto com vocês nisso), portanto, é por meio das trocas entre nós que poderemos construir um cenário melhor para as nossas vivências sexuais — e assexuais.
Assim, é baseado nessas condutas que convido vocês a participarem disso, como um corpo de hackers sociais, para repensarmos e auxiliarmos na minimização das vulnerabilidades existentes no nosso exercício da nossa (as)sexualidade. Vamos juntos? :)